História de Luisburgo e a trajetória do Ex-prefeito José Carlos Pereira eleito por dois mandatos consecutivos
Texto de: Adirson Teles
DO SONHO À REALIDADE
A história de Luisburgo remonta ao ano de 1800, quando o vale ainda era habitado pelos índios Tupi, nativos no local e chamados de Puri, pelos primeiros a adentrarem o local. A colonização tem início a partir desse ano, quando os primeiros desbravadores chegam à região. Eram bandeirantes que vinham do litoral do Espírito Santo à procura de ouro e poaia, uma planta medicinal comum na Mata Atlântica. Os primeiros imigrantes eram europeus, que partiram do Rio de Janeiro em busca de regiões de clima mais ameno, pois, estavam habituados ao frio de suas terras de origem.
O solo do vale começou a ser cortado por Domingo Fernandes Lana, que abriu as primeiras estradas para acesso das famílias Hott, Baltazar, Cosendey, Giviziez, e outras, que vinham da Suíça para o Brasil e se estabeleceram ao redor das belas montanhas. Essas famílias começaram o cultivo das terras.
Desde o início, a agricultura despontou como a principal atividade econômica de Luisburgo e, em 1849, com a chegada da cultura do café, o produto se tornou a maior fonte de renda dos habitantes de Luisburgo, e as primeiras plantações de cafeeiros surgiram às margens do ribeirão São Luís.
No período que compreende os anos de 1860 e 1874, Luisburgo recebeu novos colonos e os alemães, portugueses, italianos, turcos e libaneses, vieram do Espírito Santo e da região fluminense de Nova Friburgo para habitar o vale.
A área que deu origem a Luisburgo, fazia parte da propriedade do senhor José Petronilho de Inácio Souza e dona Anna Rita de São Miguel que, em 25 de janeiro de 1892, doou 4 alqueires e 22 litros a São Francisco das Chagas, santo a quem devotavam fé. Nascia São Luis do Manhuaçu, assim denominada por prevalecer, no lugar, a devoção a São Luiz Gonzaga, considerado pela Igreja Católica o padroeiro da juventude, pois, a maioria dos colonizadores suíços ainda eram jovens quando chegaram ali.
A terra doada foi registrada em nome da Igreja Católica, e no local foi estabelecida a pedra fundamental da área urbana onde se desenvolveu a atual cidade de Luisburgo. Ao redor da área, estabeleceram as primeiras habitações e o comércio, liderado pelos turcos e libaneses.
O café e o comércio foram as principais atividades, responsáveis pelo crescimento do distrito, que já necessitava de outros serviços. Assim, em 1890, é aberto o primeiro cartório no distrito, tendo como escrivão do tabelionato o senhor Juvenil de Abreu, descendente de suíços e que não era devoto de santos. Ele propôs a mudança do nome do distrito de São Luis do Manhuaçu. O tabelião justificou sua sugestão como uma homenagem às origens europeias, associando o nome do santo ao termo burgo, que significa pequeno vilarejo, criando de nominação Luisburgo.
A partir do ano de 1950, inicia o primeiro movimento pela emancipação, liderado pelos senhores José Thabeth Knupp e José Thebit, porém, a luta se arrasta por 45 anos e, no dia 21 de dezembro, o Distrito de Luisburgo deixava de pertencer a Manhuaçu, através da Lei nº 12030, publicada no Diário Oficial, do Estado de Minas Gerais. Foram atores importantes na emancipação de Luisburgo José Antônio Saib Chequer e Francisco Adão de Carvalho, líderes do movimento, apoiados por Gilvan Carvalho de Abreu e Samuel Maia Vizza. Portanto, até o ano de 1995, Luisburgo era distrito de Manhuaçu, porém, a partir de 17 de dezembro de 1995 o distrito é elevado a município.
O primeiro pleito para eleger os membros dos poderes Legislativo e Executivo do Município aconteceu no dia 03 de outubro de 1996, sendo eleitos para o cargo de prefeito Geraldo Francisco Lacerda Filho e, para o cargo de vice-prefeito José Henrique Moreira. Formaram o primeiro Legislativo os vereadores José Thabeth Knupp, José Henrique Moreira, Nilson Borel, Lourival Rodrigues Rosa, Derly Arruda Benedito, José de Abreu, Gilson Siney Martins, Neura Pacheco da Silva e Everaldo José Aparecido Campos. O primeiro presidente da câmara foi o vereador Nilson Borel.
O padroeiro de Luisburgo é São Luís Gonzaga, comemorado em 21 de junho e o município realiza, anualmente, a Festa do Produtor Rural ou Festa da Amizade, com shows, barracas e comidas típicas.
O município de Luisburgo possui cerca de 145 km², um vale recordado por montanhas e inúmeras fazendas de café, que compõem um conjunto de belezas naturais, uma característica comum às imediações da Serra do Caparaó. O relevo luisburguense é montanhoso e o pico da Pedra Dourada é o ponto mais alto, a principal área de mata atlântica no município e um local de visitação turística.
Um lugarejo cravado entre montanhas e morros, cercado por extensas lavouras de café, roçados de milho, feijão e os currais onde o gado se abrigava.
A lua clareava a noite e o sol aquecia as manhãs frias de inverno. O orvalho esbranquiçava as folhas e a friagem trazia uma vontade enorme de não sair de casa, não arredar o pé do fogão a lenha, de onde vinha um calorzinho gostoso, um cafezinho cheiroso e um biscoitinho de polvilho que fazia salivar apenas por um olhar.
O sol surgia por detrás dos morros e seus raios alaranjados refletiam no cume das montanhas, dourando o pico das pedras e as gotículas de água que caíam durante a noite e iam repousar sobre as folhas e os telhados.
A pedra iluminada pelos raios do sol encantava e não foi difícil dar nome ela. Assim, sob olhares curiosos e encantados, surgiu a Pedra Dourada. Um lugar encantador. As muitas matas, os morros, as montanhas e os filetes de água se misturavam às lavouras, contornavam as casas, quintais e davam ao lugar uma beleza inigualável.
Ao pé da Pedra Dourada, em meio a esse misto natural que formava o cenário daquele lugar, escondidos por matas, morros, ligados por caminhos cortados em meio ao verde das matas, surgiram as casas, os casarões, os currais, as hortas e onde as pessoas moravam.
Matas derrubadas, caminhos abertos e, nas clareiras, foram erguidas pequenas e grandes casas. Numa dessas pequenas e modestas moradias, Eunício Pereira e dona Maria Leone Pereira iniciaram a caminhada juntos.
O senhor Eunício e a esposa, dona Maria Leone, se abrigaram no seio das serras da Pedra Dourada, onde nasceram e cresceram Cleunice, Cleuza, Ademir, José Carlos, Rosilene, João Batista, Clenir e Marília, os filhos do casal. A família não conhecia o luxo e a simplicidade era presente em todos os momentos, mas a virtude e os bons princípios rondaram sempre a família.
A cozinha era o cantinho preferido de dona Maria Leone, onde passava a maior parte do tempo. A caminhada diária e constante entre a bica, o fogão a lenha, o varal e a limpeza da casa, lhe dava uma canseira danada. Ao findar o dia, as pernas doíam e a vontade era deitar e dormir um sono longo e cheio de sonhos bons.
Os filhos enchiam de alegria a casa, numa algazarra que parecia não ter fim e a mãe se entretinha numa correria infinita para dar conta da comida, da roupa lavada e da casa limpa. Mas o orgulho não poderia ser maior, a satisfação lhe enchia o coração e o sorriso largo lhe dava a certeza do dever cumprido. Apesar de tanta labuta, os filhos estavam sendo criados nos princípios dignos da fé, como bons cristãos que eram.
O senhor Eunício passava a maior parte do dia na roça e a lavoura lhe roubava a presença. Era da roça que ele tirava o sustento da família, em meio a plantações e colheitas, capinando, adubando e carregando, nas costas, os balaios cheios e pesados.
Os filhos cresciam e já ajudavam nos roçados e em algum afazer em casa. Dona Maria Leone e o senhor Eunício não se descuidavam da orientação dos filhos e não se cansavam de ensinar a cada um os valores e princípios que deveriam apreender e levar para vida toda.
Nessa família simples, modesta e que habitava uma pequena gleba nas terras do Córrego da Pedra Dourada, José Carlos observava os pais e entendia o que eles lhes ensinavam.
O senhor Eunício percebia que o filho era meio adiantado, precoce em tudo o que se propunha a fazer. Estava sempre ao lado dos irmãos, ajudando-os no que precisavam, dividindo as brincadeiras, compartilhando o pouco que possuíam para brincarem sempre juntos.
A infância foi árdua, sem quaisquer regalias. Dinheiro para gastos com brinquedos, não existia, e tudo o que podiam contar é com uma vida regrada, dificuldades e lutas que os envolviam e afetavam desde pequenos.
O trabalho era uma necessidade, uma questão de sobrevivência, porém, apesar de tanta luta, José Carlos percebia a necessidade de não esmorecer, mas lutar, batalhar pelo que sonhava e desejava, mesmo que parecesse distante, impossível, até. Eles deviam acreditar e lutar por melhores condições de vida e jamais perder a esperança, pensava ele.
As crianças que moravam no Córrego da Pedra Dourada enfrentavam enormes dificuldades para frequentar a escola e o estudo era protelado. Quanto mais velho ir à escola, melhor, menos preocupações para os pais, que não se sentiam confortáveis em ver os filhos percorrerem cerca de três quilômetros para chegar à escola.
Os meninos caminhavam morro acima todo aquele percurso, sob sol ou chuva. A carteira da escola era o descanso e o suor escorrendo no rosto até incomodava, misturado à poeira que amarelava até os cabelos.
Apesar do cansaço, nem todos os alunos pareciam interessados no que a professora falava. O zunzunzum era tamanho que ela se perguntava onde aquelas crianças arranjavam tanta energia e disposição.
José Carlos começou sua vida escolar antes dos seis anos, mas logo parou para se dedicar ao trabalho, pois, não parecia fácil vencer o primeiro ano escolar.
As horas de castigo na carteira da escola demoravam muito a passar, mas, lembrar que ainda precisavam andar todos aqueles quilômetros de volta para casa, não era nada animador. O sol desanimava e a chuva não os empolgava a sair do lugar.
Os dias passavam, os anos se sucediam, um após o outro, mas a escola ainda não despertara o interesse de José Carlos pelos estudos. As constantes reprovações não eram indícios de dificuldades de aprendizagem, mas a falta de interação entre o aluno, a professora e os conteúdos ensinados.
Aos sete anos de idade, quando uma irmã passou a frequentar a escola, José Carlos retomou os estudos, interrompidos para se dedicar somente ao trabalho. Habituado ao trabalho na roça, não parecia fácil aprender o que era ensinado. A cada fim de ano, a notícia parecia a mesma e a certeza da reprovação, já não surpreendia a ninguém.
A professora Nelcina, que muito se empenhava no aprendizado dos alunos, percebendo a dificuldade enfrentada por José Carlos em vencer as etapas escolares, propôs uma nova metodologia. Ele deveria se submeter a um sistema de ensino que avançasse de acordo com a idade do aluno, que se mantinha na primeira série. A curta carreira escolar de José Carlos durou dos sete aos doze anos, porém, ele somente teve condições de estudar de maneira mais frequente dos dez aos doze anos.
Após uma prova em Manhuaçu, José Carlos foi reclassificado e matriculado na terceira série do ensino fundamental. Esse período de estudos intensos e com resultados mais rápidos, foi o período considerado por ele como a fase que mais absorveu conhecimento e ocasião que pode perceber melhores resultados de sua trajetória escolar.
As leituras se resumiam nos textos da bíblia ou outros textos religiosos e os cursos avulsos ampliavam o conhecimento de José Carlos, que não tinha acesso a bibliotecas ou condições financeiras para comprar livros.
O espaço da casa, o quintal e até mesmo o Córrego da Pedra Dourada pareciam pequenos demais para acomodar José Carlos, que se mostrava inquieto, inconformado com a condição de vida de muitos moradores do lugarejo. Ele parecia querer suprir as necessidades de cada vizinho, resolver os problemas de cada morador, mas se sentia incapaz de trazer as soluções que os vizinhos e amigos tanto almejavam. Buscavam condições melhores de vida e ele sentia que nada poderia fazer, mas queria e devia encontrar uma solução.
Entretanto, num domingo, ele acompanhava os pais e os irmãos à missa, quando ainda adolescente, José Carlos decidiu: seria catequista, ajudaria na igreja. Incentivaria os meninos de sua idade a buscar, na fé, a força para vencer as dificuldades que rondavam a todos eles.
E não foi difícil por logo em prática o que imaginou e José Calos se envolveu com o trabalho religioso de sua comunidade. Não foi um trabalho fácil, mas ele se sentia útil, ajudava nas atividades da igreja e a comunidade já percebia no jovem a tendência aos trabalhos comunitários.
José Carlos se envolvia com os trabalhos e problemas e não se esquecia de atender à comunidade, acompanhando o grupo de jovens nos trabalhos religiosos.
Aquele jovem catequista, de apenas quinze anos de idade, se mostrava diferente de muitos de sua época. Ele se preocupava com os problemas alheios e queria ver a fé impulsionando cada um de seus amigos ou membro da comunidade do Córrego da Pedra Dourada.
Não era fácil enfrentar a escuridão das noites sem luar para ir à igreja ou voltar para casa. A capela não era perto de onde moravam e o caminho escuro e margeado de árvores, arbustos e lavouras, protegidos por cercas de arame afixado em mourões de braúna. Aos dezesseis anos, José Carlos conheceu Isabel, num encontro rápido e furtivo e uma troca de olhar que o cativou.
Isabel, uma bela menina de apenas treze anos de idade, era tímida e retraída. Não ousava esboçar nenhuma reação, temendo a repreensão dos pais. José Carlos também não queria causar aborrecimentos à menina e se lembrava constantemente dos ensinamentos dos pais.
Ele sempre foi muito obediente, considerando as orientações do senhor Eunício ou de dona Maria Leone. Não questionava as ordens recebidas e o que lhe era pedido, ele realizava sem retruca.
Parte da infância José Carlos passou nas terras do avô, até que essas terras foram vendidas e a família teve que mudar para outra área próxima à igreja da Católica da Pedra Dourada, onde a família foi criada e onde ainda mora parte da família.
O Córrego da Pedra Dourada marcou a vida de José Carlos e de sua família. Ele traz consigo lembranças de sua infância e, apesar das muitas dificuldades enfrentadas naquele lugar, ele se recorda de um tempo que lhe serviu como primeiras lições, experiências que ele jamais se esquecerá.
Das recordações que lhe vem à memória, José Carlos não se esquece do tempo que eles mesmos plantavam o arroz utilizado na alimentação da família. Mas, o arroz não era beneficiado, como hoje está disponível no mercado. Era preciso pilar, “socar” num pilão de madeira, utilizando uma mão de pilão. Após retirada a palha, o arroz era peneirado, abanado e guardado em latas ou caixotes de madeira.
A máquina que retirava a palha do arroz chegou na comunidade algum tempo depois. E, lembra José Carlos, o arroz era um alimento raro, pouco disponível, sendo comum consumi-lo nos finais de semana, principalmente aos domingos. No decorrer da semana, o cardápio era canjiquinha, uma iguaria de milho triturado em minúsculas partículas, cozido e servido em forma de sopa. O milho era moído em um moinho construído sob um jato de água, que girava as pedras sobrepostas, por onde o milho passava e sofria o atrito que fazia o grão se quebrar, transformando-o em fubá ou canjiquinha.
Naquela época, quando ainda crianças, eles mesmos criavam os brinquedos. O terreiro da casa era o espaço explorado e o cavalo era montado em pelo, sem a sela. José Carlos lembra que os brinquedos eles mesmos criavam.
Os irmãos eram muito unidos e havia a quem José Carlos era mais apegado. Os dois eram sempre vistos juntos, fosse no campinho de terra onde jogavam pelada ou nas festividades religiosas, onde estava um, o outro também poderia ser encontrado. Era como carne e unha, diziam os pais.
Entretanto, uma notícia entristeceu um pouco José Carlos. O irmão Ademir se casaria e ele perderia o companheiro. Agora teria que sair sozinho, Ademir teria a esposa para lhe fazer companhia.
José Carlos não se aborreceu com o casamento de Ademir, mas sentiu sua ausência nos momentos que sempre estavam juntos. Portanto, a presença de Isabel parecia preencher o vazio causado por Ademir.
O namoro de José Carlos e Isabel se solidificou e o relacionamento foi se tornando cada dia mais sério.
Não havia opção de lazer A rotina era a igreja, os jogos de futebol no campo de terra da comunidade e as atividades desenvolvidas por um catequista. José Carlos se entretinha nos afazeres da igreja.
Aos dezenove anos, quando Isabel tinha apenas dezesseis anos, o jovem casal resolveu se casar. A união colocaria um ao lado do outro por um tempo que ambos não desejavam contar ou mensurar.
Os primeiros anos de casados não foram fáceis e a luta era muito grande para manter a família.
Os pais de José Carlos sempre apoiaram o casal e Isabel nunca considerou que dona Maria Leone apenas uma sogra, mas uma mãe, quem cuidou da família nos momentos de dificuldades e os apoiava nos primeiros anos de casados.
Dona Maria Leone amava igualmente aos filhos, sem acepção ou preferências, mas, por José Carlos, ela nutria um carinho especial, um sentimento diferente devido à maneira dele se comportar e se relacionar com os pais e os irmãos. José Carlos fazia os gostos da mãe e queria sempre saber do que ela precisava para lhe atender.
A morte da sogra foi uma perda irreparável para toda a família, afirma Isabel, que lembra os momentos vividos ao lado da mãe do marido. Ela lembra que, para chegar à casa de dona Maria Leone, precisavam subir por uma escada de pedras e o piso da casa era de assoalho. A casa era muito humilde, mas o chão e os móveis todos muito limpos e bem cuidados.
A casa fora construída com muita luta, fruto do trabalho cotidiano na lavoura, capinando, plantando, colhendo e levando, nas costas, o que conseguiam produzir. Os pais de José Carlos não puderam mobiliar a casa, não havia condições financeiras que permitissem comprar os móveis e utensílios. O que sonhavam conseguir, aconteceu alguns anos mais tarde, quando já estavam aposentados.
Isabel não se esquece que, antes mesmo de iniciar o namoro com José Carlos, já chamava de sogra a mãe dele e já a admirava pelas dificuldades que enfrentaram e a luta incansável daquela mulher. A vida não fora fácil para a família e das lembranças que Isabel guarda, é a imagem da sogra dentro do rio, lavando a roupa da família.
A luta não foi pequena e a batalha foi vencida quando o senhor Eunício e dona Maria Leone puderam ver os filhos criados, educados na fé cristã que, sob os cuidados dos pais, que não mediam esforços para vê-los guiados pelos ensinamentos da igreja, se tornavam pessoas de bem.
Isabel demonstrou, desde muito jovem, uma estrutura incomum às moças de sua idade e de sua época. Ela não sentia somente uma vã empolgação com o casamento, mas ela sabia que aquela união deveria ser para toda a vida, que seriam unidos por um laço forte e inquebrável e que, a partir daquele momento, ela não só se casava com José Carlos, mas adotava a família dele como sendo, também, a sua.
Juntos, Isabel e José Carlos enfrentavam as dificuldades impostas pela vida e, quando nasceu a filha Síntia, a situação não lhes era favorável. Eles lembram que, num período de tempo, foram obrigados a alimentar a filha com mingau de fubá, dissolvido somente com água, pois, não tinham condições de comprar sequer um litro de leite. Um vizinho lhes emprestou uma cabra, porém, ela morreu em menos de um mês e José Carlos se viu obrigado a adquirir outra, que também morreu. Outra cabra foi adquirida para pagar o vizinho.
Daquela época eles guardam a saudade dos bons momentos e as dificuldades que ficaram na memória e que marcaram a história de cada um deles.
José Carlos lembra do tempo que trabalhava na lavoura e levava seu almoço numa marmita de alumínio. Os companheiros almoçavam juntos, na lavoura mesmo, mas ele se distanciava, sentia vergonha de ter na marmita somente canjiquinha, taioba ou feijão misturado à farinha. Arroz era uma iguaria de finais de semana, especificamente, aos domingos.
Após a colheita, os grãos eram transportados e armazenados em tulhas, um trabalho pesado naqueles dias quando ainda moravam na roça.
Isabel não se esquece que, nos primeiros anos juntos, José Carlos se dedicava muito aos pais, passava a maior parte do tempo envolvido em ações que pudessem beneficiá-los. Ela não se posicionou contra tal atitude do marido, nem cogitou a possibilidade de impedi-lo de fazer o que devia pelos pais. Naquela época, tomada por uma sabedoria ímpar, Isabel apenas disse que não impediria que José Carlos ajudasse aos pais e irmãos, não se oporia a vê-lo amparando sua família, mas que ele a incluísse entre eles. Assim, naquele momento, tomada por um sentimento de amor e compaixão, Isabel apenas disse: não quero que você deixe de fazer nada por sua família, mas que você me inclua nela. Se tivesse oportunidade de falar algo à sogra, Isabel sente desejo de agradecer a ela por ter permitido a vida a José Carlos, e sua gratidão a Deus é ter a oportunidade de conviver com ela por todos esses anos.
Nesse sentimento de união à família de Jose Carlos, Isabel se posicionava de maneira tal que, hoje, o seu maior desejo é que a sogra estivesse ainda viva entre eles para que ela pudesse ver quantos acontecimentos ocorreram e o quanto valeu a pena lutar e quantas vitórias conquistaram.
José Carlos lembra o comentário de alguns saudosistas que pensam ter sido o passado melhor que os dias atuais, mas ele pondera, era uma vida muito difícil. Era normal andar a pé, o dinheiro era pouco, a carestia consumia tudo o que ganhavam e o acesso à informação e às condições básicas de vida, era somente para poucos.
Segundo suas lembranças, eles precisavam caminhar por cerca de três quilômetros para chegarem à escola, percurso, hoje, realizado por veículo automotivo. Nos dias de hoje, poucos ainda caminham longas distâncias por falta de meios adequados de locomoção, sempre há um carro ou moto disponível.
Na comunidade da Pedra Dourada iniciaram as primeiras ações comunitárias de José Carlos, que começou a atuar na igreja, como catequista, sendo já conhecido na região pela participação nas partidas de futebol junto do irmão. Não foram poucas as idas e vindas a Manhuaçu em busca de solução para problemas de vizinhos ou conhecidos. As constantes viagens de ônibus lhe consumiram seis anos, até que conseguiu uma moto, o que lhe facilitou muito as viagens. Já não perdia tanto tempo no percurso, principalmente da Pedra Dourada até ao ponto onde tomaria o ônibus que o levaria de Luisburgo para Manhuaçu.
Os moradores da comunidade de Pedra Dourada, que não possuíam veículo próprio, andavam muito a pé. Eles precisavam sair de casa ainda cedo para conseguir em chegar a tempo de “pegar” o ônibus que saía de Luisburgo com destino a Manhuaçu. Entretanto, isso não desanimava José Carlos e os primeiros que ele ajudou a conquistar a aposentadoria foram os próprios pais.
Apesar de receberem o valor mínimo, José Carlos lembra que a pequena quantia trouxe melhorias para a família. Um salário mínimo para o pai e outro para a mãe, beneficiou a família toda.
José Carlos não se esquece das muitas dificuldades que passaram quando ainda crianças, mas o sacrifício fez dele e dos irmãos pessoas de bem, honestas e motivo de orgulho para os pais.
O espírito empreendedor e batalhador de José Carlos o levou, ainda aos quinze anos, a investir na catequese como meio de realizar um trabalho social. Ao comunicar ao senhor Eunício que fora convidado a ser catequista, José Carlos lembra que o pai lhe disse que se fosse para ele ir, que fizesse tudo correto, que fizesse o “certo”, uma preocupação para que o filho desse sempre bons exemplos, apesar de não ser frequente nas atividades da igreja.
Cumprindo a orientação pai, José Carlos começou a se preparar para o trabalho religioso e social, realizando cursos e trocando experiências em movimentos sociais, como o Eclesial de Base.
As atividades esportivas e religiosas prenunciaram o trabalho mais amplo, que aconteceria anos depois.
Na comunidade, muitos recorriam a José Carlos para que ele os acompanhasse ao Sindicato Rural de Manhuaçu. Buscavam a concessão de auxílios e aposentadorias. Os idosos tinham muitas dificuldades para obterem o que necessitavam e requeriam por direito. Eles queriam ser representados junto aos órgãos públicos, onde buscavam seus direitos.
Eles se sentiam desamparados e desprotegidos e José Carlos os acompanhava, até que conseguissem o que precisavam e os benefícios os quais tinham direito.
Através do trabalho sindical, no ano 2000, José Carlos foi eleito vereador, tendo apoiado, na eleição anterior, outro candidato.
Eleito representante municipal, José Carlos não abandonou o trabalho sindical, ajudando aqueles que precisavam de seu apoio.
Tempos depois, José Carlos apoiou e aceitou o convite para candidatar-se a vice-prefeito, tendo como candidato a prefeito, o Tatão. O candidato a prefeito é nascido em Luisburgo e muito conhecido na cidade. Entretanto, a popularidade do candidato a prefeito e a vice, não foi suficiente para elegê-los. Faltaram-lhes 27 votos para a vitória.
Nessa dificuldade enfrentada, José Carlos lembrou-se das barreiras enfrentadas para obter uma solução para os problemas daqueles que buscavam ações do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Manhuaçu. Os impasses impulsionaram a fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Luisburgo, o que ocorreu no ano de 2004.
Com orgulho, José Carlos percebeu que, 15 dos votos que foram contrários à fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Luisburgo, se filiaram e, alguns que foram a favor, ainda não optaram pela associação ao órgão de defesa dos trabalhadores rurais.
A alegação dos contrários à criação do Sindicato era de que a emancipação política e administrativa de Luisburgo ocorrera há menos de 10 anos. Era, ainda, uma cidade inexperiente e não comportaria a complexidade de um sindicato, alegavam. Porém, nada abatia José Carlos, que alegou que aprendeu a andar e a falar com a ajuda dos pais e outros familiares. Assim, na fundação e manutenção do sindicato, ele teria que contar, também, com a ajuda de outras pessoas.
Nesse rol dos que o auxiliaram, José Carlos não pode se esquecer de Eduardo, um velho parceiro da Pedra Dourada, que o ajudou na aquisição de equipamentos básicos para a preparação do sindicato e deixá-lo pronto para atender a quem precisasse.
O primeiro computador disponibilizado ao Sindicato foi comprado por meio do auxílio do Partido dos Trabalhadores, que não possui escritório na cidade de Luisburgo.
A implantação do sindicato rural em Luisburgo exigia disponibilidade de recursos financeiros para arcar com as despesas de registro sindical. Entretanto, José Carlos, estava empenhado em estabelecer um órgão de defesa dos trabalhadores rurais no município e assumiu, ele mesmo, o custo com os registros, pois, o sindicato não possuía fundos financeiros.
Tão logo foi fundado o Sindicato Rural de Luisburgo cresceu rapidamente e logo conquistou espaço e autonomia. E, com isso, a maneira como o sindicato era visto mudou e passou a ser percebido como autêntico representante da categoria no município e junto aos órgãos oficiais e financiadores, inclusive participando de movimentos sociais.
José Carlos se sente orgulhoso de ver a família envolvida nas atividades sindicais. Perceber que o sonho de ter um sindicato atuante e com resultados, mesmo não estando à frente das principais decisões é, para José Carlos, motivo de tranquilidade, pois, seu trabalho não cessou, mas continuará avançando.
Isabel se mostra guerreira, uma mulher incansável à frente dos trabalhos do sindicato e, apoiada pelo filho Jean, ela percebe que, em breve, ele, também, pode seguir os passos do pai. A filha Cíntia optou por não se envolver em atividades sindicais e, muito menos, políticas. O filho Silas reside, ainda, na Pedra Dourada, porém, trabalha com projetos de habitação rural.
Dentre as orientações que José Carlos procura passar ao filho Jean e à esposa, quanto aos trabalhos sindicato, ele lhes faz lembrar sempre que o trabalhador rural é o patrão, portanto, é quem manda no sindicato.
O trabalho desenvolvido por Isabel no sindicato era quase que voluntário, pois, não havia arrecadação suficiente para permitir pagá-la dignamente pelo trabalho realizado. Ela andava a pé ou numa motocicleta não muito nova, sob sol, chuva, enfrentando barro, sentindo os efeitos do cansaço e a fadiga pelo trabalho.
Entretanto, era preciso ter em Luisburgo um órgão de apoio aos trabalhadores rurais do município e o começo foram os trabalhos na comunidade. Algum tempo depois, José Carlos se candidata ao cargo eletivo de vereador, concorrendo a uma vaga à Câmara Municipal de Luisburgo.
Até o ano de 2004, José Carlos se dedicou às atividades do sindicato e aos trabalhos na roça. A partir do ano de 2004 e, pelos quatro anos seguidos, sua dedicação foi exclusivamente ao sindicato. O ano de 2008 oi marcante, pois, apesar de ainda continuar a morar na roça, José Carlos foi, novamente, eleito vereador em Luisburgo e, outra vez, ele abandonou as atividades da roça para se dedicar às tarefas do cargo para o qual fora escolhido e aos trabalhos do sindicato.
A opção de José Carlos por se dedicar ao sindicato e ao desempenho de seu cargo eletivo, não lhe trouxe ganhos financeiros, pois, a roça lhe trazia mais condições de assumir as despesas que ele tinha no sindicato e no sustento da família. Entretanto, a vida pública lhe atraía, ele sonhava ir além, prosseguir em sua carreira pública a favor dos menos favorecidos, na ânsia de oferecer aos seus conterrâneos melhores condições e qualidade de vida.
O trabalho realizado no sindicato e na função de vereador tornaram José Carlos muito conhecido. Ele conquistou amigos e, dentre os quais, Itamar, que reside em São João do Manhuaçu, e que demonstrou ter, por ele, muita consideração. Itamar se tornou mais que um amigo, mas José Carlos o considera como um verdadeiro irmão.
José Carlos não se limita a oferecer ajuda a quem precisa e as portas de sua casa estão sempre abertas, por onde entram, indistintamente, quem necessita de seu apoio e de seus serviços. Enquanto no sindicato, José Carlos era sempre procurado por quem precisasse encontrar uma solução para os seus problemas e esbarrava nos empecilhos da burocracia.
Os sonhos de realizar algo maior pelo povo começou a se tornar realidade e, mesmo o sindicato sendo uma instituição nova no município, em poucos anos foi possível assentar mais de 30 famílias, por meio do crédito fundiário. Muitos trabalhadores rurais deixaram de ser meeiros para serem proprietários das terras onde moravam e o Programa Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal, foi implantado no município de Luisburgo e construiu 48 casas, todas na zona rural. O movimento sindical já iniciou outras 68 casas, construídas no perímetro territorial de Luisburgo, pois, o sindicato recebeu de Jose Carlos a ideia de ser a casa o principal sonho do brasileiro.
Dentre outras conquistas do sindicato, José Carlos lembra do recebimento de um carregamento com 12 toneladas de feijão em um ano e 10 toneladas no ano seguinte, num total de 22 toneladas, que foram distribuídas na cidade de Luisburgo durante 2 anos, atendendo a pessoas carentes e instituições assistenciais. Entretanto, as primeiras conquistas somente abriram as portas para outros projetos e outros sonhos, como o Minha Primeira Terra, um programa que visará a doação de terra ao jovem agricultor rural que não a possua. Com essa terra, o jovem trabalhador rural poderá cultivar a terra ou arrendá-la, obtendo lucros para sua sobrevivência e da família que vier a constituir.
Ampliando as áreas cultivadas pelo programa de agricultura familiar, a expectativa de José Carlos é que em breve a merenda escolar seja atendida 100% por produtos cultivados por essa categoria de agricultores. Esse sistema poderá viabilizar renda a quem sobrevive das atividades rurais. Ao produzir e obter lucro com o seu trabalho e na própria terra, o agricultor não mais sentirá necessidade de se transferir para as grandes cidades, para onde migravam em busca de melhores condições de vida e renda.
Ao saber que José Carlos estava predisposto a candidatar-se a Prefeito de Luisburgo, Isabel não estranhou, pois, ela percebia que grande parte da comunidade exigia dele essa atitude. Ela não podia e nem devia frustrar lhe os planos naquele momento.
Ela lembra que, anos antes, como candidato a vice-prefeito, José Carlos não conseguiu ser eleito, numa parceria com Sebastião, conhecido por Tatão, uma personalidade influente e conhecida na cidade, alguém que faz parte da história do município desde o período anterior à sua emancipação política e administrativa. A derrota aconteceu tão somente por uma soma ínfima de 27 votos.
Apesar de acreditar que o que aconteceu é porque não devia ter sido de outra maneira, pois, a fé os leva a crer que Deus os preparava para um melhor momento, José Carlos se sentiu injustiçado, não reconhecido pelo trabalho realizado pela comunidade luisburguense. Ele não entendeu a derrota, principalmente pelo fato de deixar até mesmo de oferecer à família parte de seu tempo e recursos para dedicar-se à comunidade.
José Carlos acredita que o trabalho social exige que se tenha o coração aberto e boa vontade, amor ao próximo e, em nenhum momento, ele e Isabel pensavam que não poderiam acertar. Na ocasião da candidatura a vereador, José Carlos avaliou todas as possibilidades e se aquele seria o momento certo para se envolver na política e se tornar uma pessoa pública.
Enfim, José Carlos aceitou o desafio e se candidatou a prefeito. Ele acreditava na resposta positiva do povo de sua comunidade e aspiravam alguma mudança.
A campanha foi realizada por meio de visitas às residências dos eleitores. As dificuldades enfrentadas poderiam levá-lo a perder o foco da campanha e, assim, não alcançar a vitória almejada. Era preciso estar centrado, ter sempre em mente que o bem estar do povo estava acima de qualquer outro interesse.
Dos fatos ocorridos no decorrer da campanha eleitoral, dois marcaram aquela época e José Carlos não poderá esquecê-los tão cedo. O primeiro foi um acidente que envolveu o filho Jean e o primo, que conduzia um veículo que capotou, após o condutor perder o controle da direção. O carro ficou destruído, porém, Jean e o primo não foram atingidos e nenhum ferimento grave sofreram. José Carlos somente viu o veículo após as eleições, pois, a campanha lhe sugava todo o tempo disponível. O segundo fato que, também, envolveu acidente automobilístico próximo à cidade de Laranjal, envolveu o outro filho de José Carlos, Silas, porém, em ambos, Deus os livrou e guardou, como acreditam.
Desde o início da campanha, muitos acreditavam na derrota e, para evitar um constrangimento maior, o nome de José Carlos foi cogitado para assumir a função de vice-prefeito. Ao ouvir a sugestão, José Carlos pediu a razão de ser ele o indicado a vice-prefeito. Se ele poderia ser o vice de algum outro candidato, esse alguém poderia ser o seu vice, ponderou José Carlos.
Buscando uma explicação para entender a lógica da campanha eleitoral, José Carlos vasculhou na memória e encontrou no índice de rejeição uma esperança, uma luz no caminho obscuro de uma eleição. Ao informar-se, José Carlos entendeu que, dentre os quatro candidatos, as intenções de voto destinado a ele não figuravam em primeiro lugar, porém, o seu índice de rejeição era menor.
Avaliando as circunstâncias, José Carlos passou a acreditar na possibilidade de conquistar os votos indecisos daqueles que rejeitavam os demais candidatos. Encorajado a lutar e sem nenhuma intenção de enganar ou ludibriar o eleitor luisburguense, a campanha de José Carlos passou, de maneira simples e humilde, a buscar os votos de quem, a princípio, não se mostrava disposto a votar em nenhum candidato.
José Carlos contava, a seu favor, com a escolha do seu vice-prefeito. Geraldo Rhodes, um jovem conhecido em Luisburgo, um batalhador, uma pessoa dotada de todas as condições de ajudá-lo a alavancar a campanha. Geraldo muito popular e conhecia os anseios do povo luisburguense.
Assim, José Carlos e Geraldo Rhodes optaram pela estratégia das visitas, do diálogo, ouvindo os anseios do povo e não semeando promessas ou ilusões. Não atacando aos demais candidatos, numa campanha pautada no respeito ao eleitor e à sua opção de escolha.
Dentre as visitas que José Carlos fez e que o marcou muito foi à Dona Renilda, uma espiritualista que reside na cidade vizinha, em São João do Manhuaçu. Ela orou por José Carlos e, em suas palavras, ela suplicou a Deus por bênção à campanha e administração que estava por vir.
Dona Renilda, após orar, disse ter visto em sua memória uma placa da vitória, sugerindo ser aquele um indício de que José Carlos e Geraldo Rhodes venceriam aquela eleição.
Outro indício que os levou a acreditarem estar aquele processo eleitoral pautado na direção de Deus, foi o fato de o Pastor da Igreja Evangélica Assembleia de Deus ter orado e, igualmente à dona Renilda, disse ter sentido que aquela eleição estava sendo orientada por Deus.
Naquele momento, José Carlos se sentiu sossegado, uma tranquilidade incomum àquele momento tão turbulento. Mas, ele estava sossegado, em paz com sua consciência e com a sua fé. A vitória foi conquistada nas eleições de 07 de outubro de 2012.
A posse aconteceu em 1º de janeiro de 2013 e um culto ecumênico foi realizado. Na igreja estavam seus eleitores, apoiadores, amigos, admiradores, pessoas que queriam participar daquela alegria, daquela festa. Nada seria mais importante que agradecer a Deus, quem lhes deu a vitória.
José Carlos lembra as inúmeras visitas a todas as denominações religiosas de Luisburgo, uma demonstração de imparcialidade e que, caso fosse eleito, governaria para o povo luisburguense, e não seria prefeito de uma minoria ou trabalharia apenas para quem estivesse ao seu lado, apoiando-o, ou para quem lhe dera o voto. Ele não escolhia o momento para estar entre os fiéis, estando ou não a igreja cheia, sua presença era certa, pedindo orações e comungando com todos o mesmo desejo de ver Luisburgo se desenvolvendo e trazendo melhoras para a vida de todas as pessoas. José Carlos reconhece o valor e a importância de cada habitante da cidade de Luisburgo e admite que, se não fosse o reconhecimentos dessas pessoas, ele não seria, hoje, o prefeito do município.
Há em José Carlos a humildade de reconhecer o apoio que recebeu de cada munícipe e a importância de cada abraço recebido, cada palavra proferida, cada gesto e, principalmente, cada voto digitado na urna eletrônica no dia da eleição.
A lembrança das palavras ditas em oração pelo Pastor Geraldo de Souza, fizeram José Carlos confiar ainda mais que Deus estava com ele. O pedido a Deus foi que, naquela eleição, fosse oferecido ao povo luisburguense o melhor, o prefeito que pudesse governar a cidade de maneira digna e que beneficiasse toda a cidade, de forma imparcial. Que não houvesse rancor, sentimentos de vingança ou atritos políticos.
Ainda candidato, José Carlos se apoderou daquela oração e confiou que Deus faria dele a melhor opção para levar algo de bom e melhor àquele povo. Aquela oração justificou a sua vitória.
A oração direcionada a Deus pedia que o melhor acontecesse para a cidade e, em outra ocasião, José Barba fez uma leitura bíblica em homenagem a José Carlos. O texto escolhido falava de Gideão, que pode ser interpretado como Jerub-Baal, um juiz que surge no livro bíblico de Juízes, capítulo 7, e mencionado no livro destinado aos Hebreus, sugerido como exemplo de homem de fé. Gideão é filho de Joás, abiezrita da tribo de Manassés. O nome Gideão significa “destruidor”, “guerreiro poderoso” ou “lenhador”. Ele foi o quinto juiz de Israel, segundo a Bíblia.
De acordo com os textos bíblicos, Gideão foi o juiz que libertou os israelitadas do midianitas, que eram povos nômades árabes dos desertos da Síria e Arábia. Esse povo levava opressão a Israel e lhe roubava as colheitas e animais. Informa a história que os midianitas invadiram a parte central da Palestina e, num ataque, ceifaram a vida dos irmãos de Gideão, numa localidade conhecida como Tabor. A partir desse fato, Gideão recebeu um chamado de um anjo, que lhe falou da intenção de Deus fazer dele um libertador de Israel.
A ordem a Gideão era que destruísse o altar erguido a Baal e levantasse outro, dedicado a Deus. Assim, sob a escuridão da noite e com um grupo de trezentos homens, Gideão surpreendeu os midianitas, levou-os rumo ao Rio Jordão e capturou e matou Orebe e Zeebe, príncipes midianitas e, ainda, executou Zeba e Salmuna, reis desses povos.
Gideão foi considerado um herói e Israel quis fazer dele um rei, mas ele os surpreendeu com a recusa. Apenas pediu os brincos de ouro que havia tomado como parte dos despojos de guerra. Seu pedido foi atendido e ele utilizou o material para confeccionar uma estola sacerdotal para honrar Yahweh.
De acordo com o livro de Juízes, capítulo 8 e versículo 27, uma estola é uma espécie de veste sacerdotal e o serviço prestado por Gideão nunca foi esquecido, pois, marcou a história de Israel antes do período monárquico, pois ele foi um exemplo de servo humilde e fiel a Deus.
Juízes – Capítulo 7
1 Então, Jerubaal, que é Gideão, se levantou de madrugada, e todo o povo que com ele estava, e se acamparam junto à fonte de Harode, de maneira que o arraial dos midianitas lhe ficava para o norte, no vale, defronte do outeiro de Moré.
2 Disse o SENHOR a Gideão: É demais o povo que está contigo, para eu entregar os midianitas nas suas mãos; Israel poderia se gloriar contra mim, dizendo: A minha própria mão me livrou.
3 Apregoa, pois, aos ouvidos do povo, dizendo: Quem for tímido e medroso, volte e retire-se da região montanhosa de Gileade. Então, voltaram do povo vinte e dois mil, e dez mil ficaram.
4 Disse mais o SENHOR a Gideão: Ainda há povo demais; faze-os descer às águas, e ali tos provarei; aquele de quem eu te disser: este irá contigo, esse contigo irá; porém todo aquele de quem eu te disser: este não irá contigo, esse não irá.
5 Fez Gideão descer os homens às águas. Então, o SENHOR lhe disse: Todo que lamber a água com a língua, como faz o cão, esse porás à parte, como também a todo aquele que se abaixar de joelhos a beber.
6 Foi o número dos que lamberam, levando a mão à boca, trezentos homens; e todo o restante do povo se abaixou de joelhos a beber a água.
7 Então, disse o SENHOR a Gideão: Com estes trezentos homens que lamberam a água eu vos livrarei, e entregarei os midianitas nas tuas mãos; pelo que a outra gente toda que se retire, cada um para o seu lugar.
8 Tomou o povo provisões nas mãos e as trombetas. Gideão enviou todos os homens de Israel cada um à sua tenda, porém os trezentos homens reteve consigo. Estava o arraial dos midianitas abaixo dele, no vale.
9 Sucedeu que, naquela mesma noite, o SENHOR lhe disse: Levanta-te e desce contra o arraial, porque o entreguei nas tuas mãos.
10 Se ainda temes atacar, desce tu com teu moço Pura ao arraial;
11 e ouvirás o que dizem; depois, fortalecidas as tuas mãos, descerás contra o arraial. Então, desceu ele com seu moço Pura até à vanguarda do arraial.
12 Os midianitas, os amalequitas e todos os povos do Oriente cobriam o vale como gafanhotos em multidão; e eram os seus camelos em multidão inumerável como a areia que há na praia do mar.
13 Chegando, pois, Gideão, eis que certo homem estava contando um sonho ao seu companheiro e disse: Tive um sonho. Eis que um pão de cevada rodava contra o arraial dos midianitas e deu de encontro à tenda do comandante, de maneira que esta caiu, e se virou de cima para baixo, e ficou assim estendida.
14 Respondeu-lhe o companheiro e disse: Não é isto outra coisa, senão a espada de Gideão, filho de Joás, homem israelita. Nas mãos dele entregou Deus os midianitas e todo este arraial.
15 Tendo ouvido Gideão contar este sonho e o seu significado, adorou; e tornou ao arraial de Israel e disse: Levantai-vos, porque o SENHOR entregou o arraial dos midianitas nas vossas mãos.
16 Então, repartiu os trezentos homens em três companhias e deu-lhes, a cada um nas suas mãos, trombetas e cântaros vazios, com tochas neles.
17 E disse-lhes: Olhai para mim e fazei como eu fizer. Chegando eu às imediações do arraial, como fizer eu, assim fareis.
18 Quando eu tocar a trombeta, e todos os que comigo estiverem, então, vós também tocareis a vossa ao redor de todo o arraial e direis: Pelo SENHOR e por Gideão!
19 Chegou, pois, Gideão e os cem homens que com ele iam às imediações do arraial, ao princípio da vigília média, havendo-se pouco tempo antes trocado as guardas; e tocaram as trombetas e quebraram os cântaros que traziam nas mãos.
20 Assim, tocaram as três companhias as trombetas e despedaçaram os cântaros; e seguravam na mão esquerda as tochas e na mão direita, as trombetas que tocavam; e exclamaram: Espada pelo SENHOR e por Gideão!
21 E permaneceu cada um no seu lugar ao redor do arraial, que todo deitou a correr, e a gritar, e a fugir.
22 Ao soar das trezentas trombetas, o SENHOR tornou a espada de um contra o outro, e isto em todo o arraial, que fugiu rumo de Zererá, até Bete-Sita, até ao limite de Abel-Meolá, acima de Tabate.
23 Então, os homens de Israel, de Naftali e de Aser e de todo o Manassés foram convocados e perseguiram os midianitas.
24 Gideão enviou mensageiros a todas as montanhas de Efraim, dizendo: Descei de encontro aos midianitas e impedi-lhes a passagem pelas águas do Jordão até Bete-Bara. Convocados, pois, todos os homens de Efraim, cortaram-lhes a passagem pelo Jordão, até Bete-Bara.
25 E prenderam a dois príncipes dos midianitas, Orebe e Zeebe; mataram Orebe na penha de Orebe e Zeebe mataram no lagar de Zeebe. Perseguiram aos midianitas e trouxeram as cabeças de Orebe e de Zeebe a Gideão, dalém do Jordão.
Apesar de ter sido criado e direcionado pelos pais para a prática da fé de acordo com os preceitos católicos, José Carlos passou a observar Isabel, que se convertera e se tornara membro da Primeira Igreja Batista de Luisburgo.
As atitudes de Isabel eram percebidas por José Carlos e as orações que ela proferia começavam a surtir efeito nele. Em pouco tempo, José Carlos também sentiu desejo de comungar a mesma fé da esposa.
Ele sabia que o mesmo Deus que agira em sua vida por todos aqueles anos, também atuava na doutrina batista, que o acolheu e lhe transmitia ensinamentos espirituais que lhe fortaleciam no cotidiano.
José Carlos percebeu, logo no início de sua administração, à frente do executivo municipal, que não poderia abandonar nenhum parceiro. E, assim, apesar de se tornar membro da Primeira Igreja Batista de Luisburgo, José Carlos tem plena consciência que seu trabalho na gestão do município será voltado para o bem da coletividade, e não para uma determinada denominação religiosa. A orientação religiosa fazia parte da opção de escolha de cada cidadão, e haveria o respeito pleno ao direito de opção dos munícipes.
Nos cultos ministrados na 1ª Igreja Batista de Luisburgo, o louvor tem o poder de encantar José Carlos, que não inicia o trabalho diário sem antes fazer uma leitura de parte da Bíblia Sagrada e proferir uma oração. Ele afirma ter absorvido os ensinamentos ministrados pelo Pastor Wesley, um homem de Deus, que desenvolve importantes trabalhos que ajudam José Carlos a entender a lição de Neemias e, principalmente, como ser um líder segundo o coração de Deus.
As músicas cantadas nos cultos exercem um poder de encantamento e uma melodia que toca profundamente José Carlos é Sabor de Mel, interpretada por Damares, uma cantora evangélica. Essa música foi executada como tema da sua vitória, após os resultados da eleição de 07 de outubro de 2013. A letra e a melodia emocionaram a muitos, numa comemoração cheia de alegria. A letra da música traz uma mensagem que traduzia o que estava ocorrendo na cidade de Luisburgo e na vida de José Carlos e aquela letra era condizente e coerente com o que ocorria naquele momento, e diz:
O agir de Deus é lindo na vida de quem é fiel
No começo tem provas amargas, mas no fim, tem o sabor do mel
Eu nunca vi um escolhido sem resposta, porque em tudo Deus lhe mostra uma solução
Até nas cinzas ele clama e Deus atende, lhe protege, lhe defende, com as suas fortes mãos.
Você é um escolhido e a tua história não acaba aqui
Você pode estar chorando agora, mas amanhã você irá sorrir
Deus vai te levantar das cinzas e do pó
Deus vai cumprir tudo que tem te prometido
Você vai ver a mão de Deus te exaltar
Quem te vê há de falar: ele é mesmo o escolhido
Vão dizer que você nasceu pra vencer, que já sabiam, porque você tinha mesmo cara de vencedor e que se Deus quer agir, ninguém pode impedir
Então você verá cumprir cada palavra que o Senhor falou
Quem te viu passar na prova e não te ajudou, quando ver você na benção, vão se arrepender
Vai estar entre a plateia e você no palco
Vai olhar e ver Jesus brilhando em você
Quem sabe no teu pensamento você vai dizer: meu Deus, como vale a pena a gente ser fiel
Na verdade a minha prova tinha um gosto amargo, mas minha vitória, hoje, tem sabor de mel
Tem sabor de mel, tem sabor de mel, a minha vitória, hoje, tem sabor de mel
Deus vai te levantar das cinzas e do pó, Deus vai cumprir tudo que tem te prometido, você vai ver a mão de Deus te exaltar.
Ao tomar conhecimento da vitória, José Carlos pensou que chegaria a chorar, emocionado e lisonjeado pelo reconhecimento público de seu trabalho, a sua comoção maior foi ver que seus correligionários estavam imbuídos numa missão que iniciava naquele momento.
Em alguns momentos, José Carlos lembrou-se da mãe, do trabalho que realizara para que os pais alcançassem a aposentadoria e o semblante de tristeza e desânimo de dona Maria Leone, já nos fins de seus dias.
Ela estava doente, muito doente, mas não queria demonstrar ou preocupar a família. José Carlos lembrou que, certo dia, estava em casa, quando foi chamado para ver a mãe que havia chegado ao posto médico de Luisburgo. Ele saiu às pressas, mas, ao chegar no local, ela já estava sendo transferida para o Pronto Socorro de Manhuaçu.
Em companhia de Isabel, José Carlos tomou um táxi e foram para Manhuaçu. Entretanto, o que eles presenciaram, marcou-os sobremaneira, pois, ao chegarem, avistaram um veículo funerário e eles não poderiam imaginar que aquele carro estava ali devido ao falecimento de dona Maria Leone.
A morte de dona Maria Leone comoveu e trouxe tristeza e saudade, um vazio que não pode ser preenchido. José Carlos lembrou-se que, no sábado anterior ele havia trabalhado, em companhia do filho Jean, na casa da mãe e, no dia seguinte, às 14 horas, ele chegava à casa dela trazendo seu corpo morto, num caixão.
O velório foi de tristeza e muitas lágrimas, e o corpo da mãe foi sepultado nas terras do cemitério de Luisburgo.
Apesar de José Carlos ter sido um filho presente, participativo das lutas dos pais, ele pensa que, às vezes, sente que poderia ter feito algo mais pela mãe. Ele não lembra dela reclamar que ele não a atendesse e não há sentimento de culpa por nenhuma atitude impensada ou que ele deixasse a desejar no atendimento à dona Maria Leone, mas José Carlos gostaria de ter feito mais por ela, por quem ele sente muita saudade.
O senhor Eunício se sentia feliz e muito orgulhoso de ver que o filho, um trabalhador braçal nas lavouras de café, um agricultor simples e humilde, um pai de família exemplar e um filho bondoso, se tornou Prefeito de sua cidade natal. Era motivo de gratidão a Deus e pedir a Ele que abençoasse a sua gestão e fizesse dele um administrador digno da admiração e respeito de todos os eleitores.
A comemoração da vitória despertou José Carlos das lembranças do passado, como no passado ficariam alguns pensamentos e acontecimentos. O novo iniciava, algo diferente estava para acontecer em Luisburgo e ele sentia ser ele o canal pelo qual algumas mudanças começariam a ocorrer. Apesar da imensa responsabilidade, José Carlos não se sente frustrado, desanimado ou indisposto, porém, busca em Deus a força necessária para enfrentar os “leões” que surgirão a cada dia.
José Carlos opta sempre pelo diálogo, lembrando que, no passado, a palavra proferida por uma autoridade, seja o pai, a mãe, um professor ou legislador, era lei, ninguém questionava uma ordem, mesmo que não refletisse a verdade ou que fosse o melhor a fazer. Entretanto, hoje não ocorre dessa maneira, e o prefeito eleito em 07 de outubro de 2012 está ciente desta mudança. O trabalho exige preparo de seus líderes e atender à população exige estudo, experiência, envolvimentos e participação de todos, para o bem estar de cada cidadão, que compõe a história de uma cidade. O diálogo, o respeito mútuo e a presença constante de Deus fará desta gestão um meio de levar à população de Luisburgo melhores condições de vida, para que todos se sintam parte do processo e inseridos na gestão da cidade.